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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Pensamento do Dia #8

Sofia
15
Out20

Sabemos que estamos a envelhecer quando ficamos acordados até às duas da manhã a ver uma série e no dia seguinte acordamos com uma espécie de ressaca e sensação de que nos passou um camião por cima... Claro que fiz isto porque não trabalhava hoje, se não teria sido tudo ainda mais dramático. Antigamente podia fazer uma noitada a ver séries / anime ou a jogar online e ainda ter um teste no dia a seguir sem que se passasse nada. Há cerca de 10 anos estava eu no Pavilhão Atlântico (que entretanto até já mudou de nome... até posso dizer "ainda sou do tempo em que se chamava Pavilhão Atlântico") a curtir de um concerto dos Metallica com o meu melhor amigo (em vésperas de começarmos a namorar) com um teste de História no dia a seguir... Hoje é isto... 

Haverá sempre manhãs

Sofia
11
Out20

Haverá manhãs melhores que as manhãs de Domingo? Não sei, mas para mim as manhãs de Domingo sempre tiveram um sabor especial. Talvez por poder dormir mais por não existirem compromissos e, por conseguinte, acordar despreocupada... Talvez por saber que ainda há todo um dia pela frente para descansar e / ou organizar-me... Sempre gostei dos Domingos. Mas eu gosto de muitas coisas. Até das segunda-feiras consigo gostar. Talvez por serem um recomeço e eu sentir que a minha vida e a de todos é um eterno recomeço, que o mundo é feito de recomeços, que tudo vai e vem, porque é assim que as coisas são.
Ao longo do tempo, essa coisa que é, por vezes, difícil de definir e perceber, aprendi a ver o lado bom das coisas menos boas ou a ver outras coisas. Não me considero propriamente optimista. Como é que o poderia ser? Acordo de manhã e sei que tanto pode correr tudo bem como pode ser um dia terrível, mesmo que eu faça tudo pelo melhor. Ainda que o meu dia seja aparentemente perfeito, esse dia não é só meu. No mesmo dia, outros podem estar na parte de baixo da roda. Posso deixar-me contagiar pela ideia de que o dia é fantástico ou pela ideia de que o dia é terrível. Prefiro uma espécie de neutralidade com pinceladas de coisas boas e pinceladas de coisas más. Talvez o segredo seja cultivar o nosso jardim como nos diz Voltaire1.
Observo, penso e transformo. As crenças são complicadas para mim. Tenho valores basilares na minha vida e que, certamente, influenciam a minha maneira de agir, mas não me afundo em crenças várias, fico sempre à superfície, porque aquilo que parece límpido pode revelar-se um autêntico engodo, porque tudo é grande e mais complexo do que parece e o que nos parece estar certo pode afinal estar errado. Mais, há situações em que é difícil perceber o que é certo e o que é errado. Acredito em meia dúzia de coisas amorfas que me parecem universais. Gosto de pensar que existem coisas que são comuns a tudo. Gosto das palavras de Whitman ("For every atom belonging to me as good belongs to you")e talvez uma das minhas poucas crenças seja a de que fazemos todos parte de algo.
A manhã de Domingo chega ao fim, mas sei que haverá mais manhãs e mais Domingos, porque o Sol nasce e põe-se marcando o nosso passo.

 

1 - Voltaire. Cândido, ou O Optimismo

2 - Whitman, Walt. "Song of Myself". Leaves of Grass

Os sinos

Sofia
10
Out20

Ouvi ao longe os sinos. 

Havia anjos no céu, 

mas não os vi. 

Ouvi os sinos, 

ouvi apenas os sinos, 

aqui. 

 

Não houve melodias, 

apenas um som metálico 

que ficou a ressoar 

nos meus ouvidos, 

aqui, dentro de mim. 

 

Agora, sou eu, 

sou eu a badalar 

como sinos ao longe 

que nos querem acordar. 

 

Ana Sofia Alves

10 de Outubro de 2020

 

Chris Bell - Elevator To Heaven

 

(Ainda bem que voltei as blogs. Como ainda não renovei a licença do Word, tenho aproveitado um pouco este espaço em branco para estas pequenas coisas que preciso de tirar de dentro de mim, estes pequenos desassossegos. Enfim... Não gosto do Word online e o bloco de notas lembra-me o trabalho...)

Cadências

Sofia
09
Out20

Noite Estrelada Sobre o Ródano

Noite Estrelada Sobre o Ródano, Vincent van Gogh

(imagem da Wikipedia)

 

Trazes no teu sorriso a música de cada dia.

Perdemo-nos nas notas que sobem no ar, 

que passam os prédios, 

que chegam às árvores, 

que pousam junto da lua. 

Deslizamos os dedos pelo ar, 

agarramos as colcheias e abraçamo-nos 

numa pausa, num segundo que se faz eterno. 

Os olhos ardem ao luar, 

a música não se quer calar, 

os corpos vestem-se de cadências. 

Escrevemos histórias sem palavras, 

as mãos vibram e o ar fica mais pesado 

enquanto nos despojamos do nosso passado. 

A música enche-nos os copos quase vazios, 

gravamos memórias sonoras e esquecemos as horas. 

 

Ana Sofia Alves

9 de Outubro de 2020 

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