Gramofone #9
António Zambujo - Canção de Brazzaville
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António Zambujo - Canção de Brazzaville
Março é para mim um mês especial por ser o mês do meu aniversário. Por esta razão, a escolha que trago é uma escolha de celebração e ainda mais pessoal que as anteriores. Para mim, descobrir o poema "Song of Myself" foi reconhecer um sentimento que já existia em mim mas que ainda não se tinha manifestado. Foi um ponto de viragem. Actualmente, é fácil perceber que o meu êxtase pela vida se soltou e ganhou expressão depois de ler este poema. Hoje celebro o universal e a individualidade, a vida e a morte, os dias e as noites sabendo que sou tudo isso.
Como é extenso, escolhi deixar apenas algumas partes, esperando que sejam o suficiente para vos fazer reflectir e ir mais além.
Song of Myself
I celebrate myself, and sing myself,And what I assume you shall assume,For every atom belonging to me as good belongs to you.I loafe and invite my soul,I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass.My tongue, every atom of my blood, form’d from this soil, this air,Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,I, now thirty-seven years old in perfect health begin,Hoping to cease not till death.(...)
Stop this day and night with me and you shall possess the origin of all poems,You shall possess the good of the earth and sun, (there are millions of suns left,)You shall no longer take things at second or third hand, nor look through the eyes of the dead, nor feed on the spectres in books,You shall not look through my eyes either, nor take things from me,You shall listen to all sides and filter them from your self.(...)
They are alive and well somewhere,The smallest sprout shows there is really no death,And if ever there was it led forward life, and does not wait at the end to arrest it,And ceas’d the moment life appear’d.All goes onward and outward, nothing collapses,And to die is different from what any one supposed, and luckier.(...)
I am the poet of the Body and I am the poet of the Soul,The pleasures of heaven are with me and the pains of hell are with me,The first I graft and increase upon myself, the latter I translate into a new tongue.I am the poet of the woman the same as the man,And I say it is as great to be a woman as to be a man,And I say there is nothing greater than the mother of men.(...)
The past and present wilt—I have fill’d them, emptied them,And proceed to fill my next fold of the future.Listener up there! what have you to confide to me?Look in my face while I snuff the sidle of evening,(Talk honestly, no one else hears you, and I stay only a minute longer.)Do I contradict myself?Very well then I contradict myself,(I am large, I contain multitudes.)Walt Whitman
No princípio, os pés eram botões de rosa dourados
caminhando pela alba dos dias. Em linhas rectas ou
em círculos conjugavam verbos e lançavam o nome
do amor ao alto para que explodisse e se fixasse
ao céu. Assim, o céu seria sempre um céu de amor.
Os pés dançavam nas falésias e as pedras rolavam
até ao mar, principiando a queda dos corpos nus.
Depois, não havia pés para manter o corpo, não havia
rosas douradas e o céu reflectia nas cores do amor
o mar revolto e cinzento. As mãos uniram-se.
As mãos viraram o corpo do avesso e tornaram sua
a tarde, a noite e a nova alvorada. Construíram com
argila novas falésias e colaram com pingos de chuva
o que sobrou do naufrágio. Depois, os pés dançavam,
as mãos construíam e os corpos uniam-se à praia.
Ana Sofia Alves
2 de Janeiro de 2021
Fevereiro... O mês dos apaixonados... Mas, para quem está apaixonado, todos os meses são meses de paixão. Pegando nesta pequena ideia, porque precisava de algum tema para tornar o processo de escolha mais simples, decidi que iria partilhar um poema sobre o amor/paixão. Mesmo assim, não foi uma tarefa fácil. Afinal, este é um tema amplamente explorado e que faz o mundo girar.
Coloquei logo de parte o Romeu e Julieta, porque, apesar da escrita, na minha memória, associo-o sempre à paixão irracional que nos impede de sermos livres e nos traz sofrimento. Na minha opinião, não é o melhor exemplo para se falar da beleza do amor, ainda que seja um símbolo universal. Quanto à paixão, prefiro algo mais simples.
Pensei, então, em belos poemas sobre o amor e também sobre o desejo e, dentro de mim, destacou-se logo o nome de um poeta (na realidade é um pseudónimo): Eugénio de Andrade. Descobri-o nas aulas de Português quando tinha 15 anos e senti-me logo ligada às suas palavras. A idade trouxe-me a capacidade de as compreender melhor e os seus poemas ganharam um novo sabor. Tornou-se um dos meus poetas de eleição, apesar de ainda ter muito para ler e descobrir (como ainda não o tenho na minha estante, a antologia poética editada há poucos anos pela Assírio & Alvim, Poesia, é uma excelente prenda... pode ser em ebook, já que não sou esquisita e recebi um Kobo no Natal). Julgava que a minha busca por um poema simples sobre o amor ficaria por aqui. Parecia-me bem começar já a incluir poemas na nossa bela língua portuguesa, uma vez que comecei estas partilhas com um poema em inglês, ainda assim acabei por não me decidir. Na minha cabeça tilintavam as palavras de e. e. cummings nas quais pensei inicialmente... Contudo, queria algo mais simples que, nessa simplicidade, guardasse todo um universo. Deste modo, após ler e reler vários poemas, lembrei-me do que procurava. Deixo-vos assim um poema simples e belo. É assim que quero o amor, simples e belo, mas imenso e capaz assumir várias formas.
¿Qué es poesía?, dices mientras clavas
en mi pupila tu pupila azul.
¡Que es poesía!, Y tú me lo preguntas?
Poesía... eres tú.
Gustavo Adolfo Bécquer
Hoje, na minha primeira caminhada do ano, tive direito a este presente.