Marselha 2024 - parte 1
Foi em Junho de 2024 que, num fim-de-semana grande, fomos a Marselha.
Tudo começou em Novembro quando, num jantar de aniversário, um colega meu deu a ideia de irmos ver Rammstein ao estrangeiro, já que em 2024 não viriam a Portugal. A ideia ficou ali na minha cabeça como uma semente que precisa de tempo para germinar. A ideia agradou-nos e, mesmo sozinhos, levámo-la avante.
Nunca tínhamos ido a um concerto no estrangeiro, mas pareceu-nos uma excelente ideia combinar a música com a vontade de viajar.
Mochilas às costas e com as t-shirts dos Rammstein vestidas, partimos à descoberta de Marselha, uma cidade mediterrânea que nos proporcionou bons momentos.
É verdade, Marselha tem uma má reputação. É uma cidade com problemas de criminalidade e é bom saber por onde andar e, se necessário, estar vigilante - nunca é demais. O som das sirenes é constante e algumas partes são sujas. Ainda assim, isso não me impediu de aproveitar a viagem e gostar da cidade. Viver a vida toda na linha de Sintra talvez me tenha preparado para a viagem... Antes não fosse verdade, mas é. Sujidade vejo eu todos os dias assim que saio de casa e as sirenes são uma constante também. Tenho sorte de não ter ido a pé para o trabalho com o caminho coberto por um rasto de sangue largado por um homem que morreu, como aconteceu com o meu namorado. Ao viajar gosto de deixar as coisas desagradáveis no sítio delas, mas, em Marselha, fui obrigada a lembrar-me delas. E o mais estranho? Achei Marselha mais limpa que a minha cidade... Marselha, a cidade que todos me diziam ser bastante suja.
Assim que chegámos ao centro, tentámos ambientar-nos. A avenida estava em obras e percebemos que ali iríamos encontrar alguma sujidade. Fomos comer algo rápido e organizar melhor o nosso dia. Fomos sem grande planos - uma pequena lista de sítios por onde gostaríamos de andar e o resto seria uma descoberta.
Bebemos um café e ficámos agradavelmente surpreendidos. Está-nos no sangue beber um café, uma bica, um cheio... O primeiro foi a medo e foi uma agradável surpresa. O segundo foi um tira-teimas e os seguintes já foram sem medo - desfrutámos de cada momento. Bebi imenso café em Marselha. Que bom poder ter algo tão meu fora de casa! Disseram-me que tive sorte, que em França os cafés não costumam ser bons. Não achei sorte, achei que em Marselha a cultura do café é levada a sério, ao contrário do que possivelmente acontece noutras zonas.
Não vimos muita coisa no primeiro dia, porque era o dia do concerto dos Rammstein no Stade Orange Vélodrome. Excelente organização! Achei tudo bastante organizado. Até chegarmos à fila da nossa porta, havia imensos sacos de lixo colocados em barreiras e que todos iam usando - não vi imenso lixo no chão antes ou depois do concerto. Este tipo de organização teria sido benéfico, por exemplo, no concerto que a Taylor Swift deu no Estádio da Luz. Nesse dia, fui ver um jogo de basquetebol ao pavilhão e, ainda nem o concerto tinha começado, já o caminho estava cheio de latas de kombucha que já não cabiam mais nos caixotes a abarrotar.
Já no estádio, que é bastante bonito, conseguimos um lugar junto às grades do segundo palco. Ao nosso lado havia outros turistas, alemães. Na minha ingenuidade fui tirar uma foto com a opção de levantar a mão e o meu namorado teve de me alertar que estava a assustar os vizinhos alemães... Quem inventou a função de tirar selfies com o telemóvel levantando a palma da mão não devia ser alemão.
O concerto foi ainda melhor do que o concerto de 2023 no Estádio da Luz. O público francês também é um público brutal e a banda estava ainda mais à vontade - talvez pelo desfecho dos casos envolvendo o vocalista. Saímos do concerto e a avenida tinha imensa gente, alguns saídos do concerto e outros a aproveitar a noite de Sábado. Estava um ambiente agradável e, mesmo sendo tarde, sentimos que poderíamos continuar o caminho a pé até ao hotel. Pelo caminho havia alguns bares e padarias. Estávamos com fome e parámos numa padaria para comprar uma fatia de pizza para cada um. Era pequena, mas acolhedora e pronta para aviar rapidamente quem ia passando. Podia dizer: visitem este museu, visitem aquele sítio, comprem isto, comam ali... Não o faço e tenho consciência de que não tenho grande jeito para falar de viagens. Falo de viagens para falar de memórias. Sinto que o mais sincerto que posso dizer é: façam algo inesperado, surpreendam-se, vivam, criem memórias. Se o inesperado for encontrar uma padaria aberta depois da meia-noite e irem lá comprar algo para comer em andamento pela avenida com as estrelas como cúmplices, porque não? No fim, são estas memórias que mais calor nos trazem.
Continua...