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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Memórias de uma noite de Verão no Loch Ness

Sofia
13
Ago20

Há músicas que nos transportam para outros espaços onde estivemos no passado. Comigo, a This is the life da Amy Macdonald que estava a tocar hoje na rádio transporta-me sempre para uma estrada algures na Escócia. Não a consigo localizar porque era noite cerrada, já passava da uma da manhã. Estava tudo escuro e a única luz eram as estrelas no céu e os nossos telemóveis que serviam de lanternas. Há nossa volta havia silêncio e só se ouvia o nosso barulho, o barulho de caminhar, as nossas conversas e, entretanto, as minhas colegas a cantarem a This is the life acompanhadas da música que saía do telemóvel. Cantavam tão bem! Na altura não sabia que pertenciam a um coro na Croácia, mas não deixaria de ser impressionante se soubesse. Fico sempre fascinada com os dons dos outros e feliz por poder assistir a algo que me desperta os sentidos. Não me posso considerar uma pessoa religiosa, ainda que acredite que existe algo mais, porque "life happens"  e o espírito crítico também, mas fui educada na religião católica e lembro-me, às vezes, da parábola dos talentos. Não gosto do seu tom ligeiramente severo e punitivo, mas concordo com a ideia de que devemos dar uso aos nossos dons, ao que temos.

Loch Ness, Escócia, Agosto de 2012

Fotografia tirada pela Nina K., uma das pessoas fantásticas que pude conhecer na Escócia.

 

Esta noite de Verão na Escócia parece-me sempre saída de um filme. O Loch Ness, uma fogueira, as estrelas, algumas latas de sidra, a música a tocar... Sobre a música, só me lembro de quando tocou Led Zeppelin, porque é uma das minhas bandas favoritas e porque acabámos a comentar a casa que o Jimmy Page teve naquela zona. No final, a família inglesa que nos tinha convidado a ir ver as estrelas despiu-se e mergulhou no Loch Ness. Não esperávamos o súbito desfecho e, apesar da mente aberta, não os decidimos acompanhar apesar do convite.

Regressámos entretanto para o hostel. Saltámos uma cerca por onde tínhamos antes passado mas que não me lembro de lá estar, se calhar porque o caminho não estava fechado na altura. Seguimos estrada fora sem que um único carro passasse por nós. Assustámo-nos um pouco com o barulho das ovelhas que acordámos com a nossa passagem e pensámos que estávamos a viver uma cena de um filme, esperando que não fosse um filme de terror onde um grupo de estudantes é encontrado no meio do nada por alguém menos bem intencionado e que pode até ser um assassino. Correu tudo bem e o caminho até ao hostel proporcionou-me um bom momento de contemplação. Para quem nunca se sentiu no meio de nenhures, é difícil descrever a sensação. Sentimo-nos libertos e no centro do mundo. Somos nós e o universo. Sentimos que o mundo é belo e que há tanto por descobrir.

Tive sorte em participar duas semanas num Erasmus de Verão. Conheci pessoas fantásticas. Aprendi mais sobre outros países e culturas. Aprendi mais sobre mim. Estudei coisas bastante interessantes. Vi das paisagens mais belas da minha vida, talvez até mais belas do que as que vi no Japão (e ir ao Japão era a minha viagem de sonho)! Os dias eram longos, mas não se sentia o tipo de cansaço que se sente habitualmente no dia-a-dia. Acordávamos cedo para ir para as aulas e ao final do dia aproveitávamos a sala comum para apresentações temáticas sobre os nossos países e para falarmos uns com os outros. Fui tudo tão intenso!

10 coisas para tornar o dia melhor

Sofia
08
Ago20

Esta semana foi cansativa, mas não pretendo vir aqui desabafar sobre o assunto. Quero antes partilhar uma lista de coisas (sim, sou dessas pessoas que gosta muito de listas) que me ajudam em alturas destas. Ficam aqui sugestões para melhorar os dias menos bons.

 

- Tomar um bom duche  - Podemos ter a cabeça cheia de preocupações ou estar a sofrer com as noites mal dormidas... Um bom duche ajuda a limpar o corpo e a alma. 

- Respirar fundo e pensar "Hakuna Matata"  - Não é um mantra da Tara Verde, mas pode ajudar a libertar-nos do stress.

- Brincar e dar mimos aos nossos animais de estimação  - Seja o cãozinho, o gatinho, o coelhinho, a cobrinha (nada de segundas interpretações )... Os nossos animais parecem ter o super poder de nos dar forças quando tudo parece estar perdido!

- Fazer um jantar romântico  - Ligar uma música agradável (gosto especialmente de jazz às refeições) e pôr a mesa bonita ajudam logo a tornar o dia melhor (neste caso já é de noite, mas não faz mal), mesmo que o jantar nem seja nada de muito elaborado.

- Fazer um bolo ou bolachinhas  - É preciso tempo e não convém tornar-se um hábito, se não deixa de ter piada e torna-se um perigo para a alimentação (a menos que estejamos a fazer bolos e bolachas para oferecer - gosto imenso de fazer isto na altura do Natal pois posso levar bolachinhas para partilhar com os colegas de trabalho nos lanches de Natal). Para quem tem menos jeito para doces, sugiro receitas de bolachas e biscoitos. Costumam ser mais simples e só é preciso ter cuidado com a temperatura e o tempo no forno.

- Praticar algum tipo de exercício físico  - Confesso que não tenho conseguido manter uma rotina saudável neste ponto e que tudo piorou com o vírus desgraçado. No entanto, nunca é tarde para recomeçar ou começar. Se há algo que ajuda a libertar a cabeça das preocupações e nos permite ter umas noites de sono melhores é a prática de exercício físico.

- Pôr a tocar algumas das nossas músicas preferidas (mas felizes, caso contrário o efeito não é o mesmo) e cantá-las em plenos pulmões (se forem cá dos meus, "desafiná-las em plenos pulmões")  - Às vezes é preciso um pico de energia para dar a volta por cima. Caso as músicas preferidas não resultem, podem sempre pôr a tocar aqueles hits que têm tendência a puxar para a cantoria (seja a Don't Stop Me Now, a YMCA, a I Will Survive, a música do Shrek, A Moda do Pisca Pisca, a Princesinha... Posso dizer-vos que enquanto escrevia este post coloquei a tocar a cover acima da I'm a Believer - a.k.a. música do Shrek - e o meu namorado começou a cantarolá-la baixinho )

- Dançar (não interessa se bem ou mal)  - Podemos aproveitar as músicas que colocámos a tocar para cantar em plenos pulmões ou até elaborar uma ou várias playlists específicas para dar um pezinho de dança (podem aventurar-se pelos 80s, pelo pimba, pela música brasileira... o importante é a boa disposição). Quando era mais nova, devido à timidez, não era algo que fizesse no meio de estranhos. Hoje, já não quero saber e, mesmo fora de casa, aproveito o bailarico (meus ricos Santos Populares, que saudades).

- Dormir  - Há que saber quando o corpo e a mente pedem descanso. Se for preciso, dormir a manhã inteira... O melhor seria não chegar a precisar de tanto, mas, se tiver de ser, dêem ao corpo o que ele pede.

- Abraçarmos e beijarmos aqueles de quem gostamos  (cuidado agora com o vírus ) - Não sou muito beijoqueira e só costumo dar beijos e abraços às pessoas que me são mesmo próximas, mas é das melhores coisas da vida, não é? O que não vale um abraço bem apertado do meu namorado e um beijo na testa quando o mundo parece estar a acabar... 

Brindemos aos primeiros dias!

Sofia
20
Jul20

Quando estamos em paz connosco ganhamos anos de vida. Tenho tendência para stressar demasiado, mas quero acreditar que os meus momentos de paz me vão ajudar a subir a minha média.

Sinto-me estupidamente bem porque fiz pela primeira vez um risotto. É uma coisa sem importância, mas que me deixou super bem-disposta e relaxada (se calhar o copo de Caiado branco que o acompanhou também contribuiu para isto, é verdade, mas não vamos pensar nisso).

Na primeira vez que fazemos algo novo, existe todo um nervosismo e temos tendência a dar todos os passinhos devagar. Tentamos ser rigorosos para não falhar, porque nos comprometemos a fazer algo e queremos levar tudo a bom porto. Não temos pressa, porque a pressa é inimiga da perfeição. Desfrutamos da aprendizagem e percebemos que bons resultados podem vir do tempo e da atenção. Quando o nosso empenho se transforma num bom resultado, ficamos felizes e até com algum orgulho, não há que ter vergonha em dizer.

No final da minha aventura culinária de hoje, acabei a transpirar tanto que mais parecia um alambique, mas, já o meu querido Pessoa dizia, "Tudo vale a pena / Se alma não é pequena".

Tento levar os meus dias como se fossem os últimos e os primeiros. Os primeiros, porque sei que vou dar sempre o meu melhor para não falhar. Os últimos, para não me esquecer que não há problema em falhar e que o importante é ser feliz.

Tenham uma boa noite!

 

Sérgio Godinho - O Primeiro Dia

Como é que aqui cheguei?

Sofia
16
Jul20

Faz hoje uma semana que criei este blog e nem me apresentei. 

Está bem, ninguém me obriga, mas fica bem... Acho que, como foi um regresso, entrei logo cheia de vontade de matar saudades deste mundo dos blogs e só quis escrever e escrever e escrever e escrever. Mesmo quando não sabia sobre o que escrever e pensava que só ia partilhar uma música, dei comigo de novo a escrever. Não posso prometer passar cá todos os dias, mas prometo que farei o meu melhor para que este seja um espaço simpático.

 

Ora, para quem não me conhece (certamente muitos), aqui fica a história resumida de como aqui cheguei.

Chamo-me Ana Sofia. Sofia para alguns, Ana para outros ou Ana Sofia para os restantes. Só não me tratem pelo apelido. Tenho 29 anos e tive o meu primeiro blog quando tinha uns 13/14 anos. Não sei porquê, o meu primeiro contacto com blogs foi através de sites brasileiros. O primeiro dos blogs foi uma desgraça de adolescente onde decidi partilhar imagens de tudo e mais alguma coisa de que gostava (mais valia ter criado um Fotolog, mas ainda não tinha tomado conhecimento da sua existência). Depois descobri o Weblogger que ganhou um carinho especial por me ter apresentado o HTLM. Ana Sofia, este é o HTML. HTML esta é a Ana Sofia. Agora, desenrasquem-se um com o outro. A curiosidade fervilhante da juventude faz-nos querer saber mais sobre tudo. Quando abri o editor e dei de caras com um código gigante, não percebi logo para que servia. Depois, como queria ter um template bonito como os outros blogs, fui pesquisar. Primeiro usei templates disponibilizados por outros bloggers. Depois quis aprender a fazer o meu próprio. Sem saber ainda o que era o Frontpage, comecei a olhar para os códigos e a tentar perceber o que ali estava. Quando fez sentido, senti-me uma miúda feliz. Naquela altura devia ter muito tempo e nem sabia... Hoje não tenho tempo e paciência suficiente para me aventurar em muitas coisas, pelo menos para já. Talvez um dia vá buscar a Ana Sofia de há uns anos...

Naquele tempo, andava ainda a descobrir a Internet e sentia-me num parque de diversões. A Internet era da Sapo, numa altura em que o tráfego internacional tinha limites. Não sei se foi por isso que vim a descobrir o Sapo Blogs, mas, caso tenha sido, foi uma estratégia inteligente. É que eu gostava de navegar muito na Internet e não me apercebi logo dos limites até chegarem as facturas... 

Durante uns anos andei de um lado para o outro entre o Sapo e a concorrência... Tive uns blogs que se aguentaram melhor que outros. Cheguei a partilhar alguns textos e poemas que escrevia, mas deixei-me disso. Por um lado, os textos e poemas tinham sido escritos numa fase menos boa da minha vida que quis deixar para trás. Por outro, cheguei a ver um poema meu copiado e fiquei possessa. Depois havia ainda a pressão de estarmos a ser lidos e tentarem analisar a fundo tudo o que escrevemos... De qualquer modo, naquela altura e durante muito tempo tive uma relação atribulada com a escrita. Às vezes fazíamos as pazes. Outras vezes eu sentia que não era suficientemente boa naquilo que estava a fazer e revoltava-me. Apaguei muitas coisas que escrevi e cheguei a dizer a mim mesma que nunca mais voltaria a escrever poesia ou prosa. Se houver vestígios de algo daqueles tempos, deverá ser apenas na minha cabeça.

Entretanto, cresci. Com a idade aprendi mais sobre mim mesma. Percebi que nunca poderia negar a escrita porque faz parte daquilo que sou. Aprendi a viver com isso e a manter o meu equilíbrio. No início não foi fácil, mas aconteceu o que não esperava que voltasse a acontecer: voltei a escrever, desta vez já sem apagar o que escrevia.

Com uma relação tão atribulada com a escrita, é natural que a relação com os blogs também tenha sido atribulada. Passados estes anos, vejo-me agora a regressar e com vontade de ficar. Percebi agora que isto só foi possível porque me reconciliei com a escrita.

 

Qual a origem do nome do blog?

O poema "Auguries of Innocence" de William Blake.  Leiam-no, porque vão gostar (espero eu).

Deixo-vos os primeiros versos:

To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower 
Hold Infinity in the palm of your hand 
And Eternity in an hour
 
William Blake, "Auguries of Innocence"