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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Alvito

Sofia
10
Jul20

As férias de Verão ganhavam logo outro sabor quando íamos para lá. Pela viagem, parávamos em Évora para ir ao mercado comprar comida para levar, porque a minha avó sempre gostou de levar as coisas e não dar trabalho a ninguém. A casa dos meus tios-avós era uma típica casinha alentejana caiada de branco e, apesar de ser Verão, lembro-me de a achar sempre fresca e agradável. Almoçávamos em família e a refeição terminava quase sempre com uma fatia de melão ou melancia cuja casca guardávamos para ir dar às galinhas.

O meu avô gostava de nos mostrar a sua terra, de nos mostrar o chafariz, o pequeno jardim, o castelo, as grutas de Alvito, a feira... Na feira, parecia-me tudo genuíno e cheio de cor! Havia feijões secos de todos os tipos, trabalhos em vime, cadeirinhas de madeira. Achava tudo encantador porque era tudo tão real!

Depois vinham as brincadeiras de miúdos nos carrinhos de choque da feira e nas piscinas da terra. Na piscina, os meus primos (ou um deles, dependendo dos netos que iam) ficavam responsáveis por mim e pela minha irmã que éramos as mais novas. O meu avô comprava-nos um grande cachorro-quente que me parecia gigante e que nunca irei encontrar igual em mais sítio nenhum, porque eram as férias e a infância que o tornavam diferente e melhor que qualquer outro. A meio da tarde lanchávamos um Maxibon e, ainda hoje, se comer este gelado, vêm-me à memória estas férias de Verão. No último ano em que lá estivemos, eu já tinha uns 10/11 anos. Já era mais alta e já sabia nadar melhor para ir para a piscina dos grandes. Lembro-me de participar numa brincadeira com outros miúdos que lá estavam na piscina. O grupo saltava todo de seguida da prancha, um após outro, sendo que, antes de saltar, o primeiro gritava "Eh tourinho tourinho!"' e o último "Eh vaca!". Não sei quanto tempo durou esta brincadeira dos saltos da prancha, mas, mesmo que tenha sido uma brincadeira curta, foi divertida (embora, na altura, não tenha feito muito sentido na minha cabeça) e, por isso, passados estes anos, ainda me recordo dela.

O meu avô também nos levava com ele à pesca na barragem. Junto à barragem havia azinheiras e cheguei a apanhar umas bolotas do chão para as observar melhor. Achava piada às bolotas porque não as via noutros sitios. No terreno de Almoçageme não havia bolotas, só caruma dos pinheiros que me picava os pés quando eu andava descalça pelo terreno. Um dia, quando fomos pescar, a minha irmã pescou um pequeno peixe e lembro-me de que o meu avô e o meu tio-avô acharam imensa piada porque a mais novita foi a única a pescar qualquer coisa. Tudo era tão simples nesta altura!