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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Dias que passam

Sofia
28
Jul20

Acordei um pouco cansada por culpa minha. Agora, deu-me para não conseguir adormecer facilmente. Não são preocupações, não é calor a mais, não é falta de cansaço. Sou eu. Ter ido de férias e ter criado um blog fez-me bem, porque acabo por me distrair mais. No entanto, talvez por estar ainda a habituar-me a estar mais distraída e despreocupada, dou comigo tão bem-disposta que não consigo adormecer. Antes não dormia tão bem porque me preocupava demais. Saía do trabalho e não conseguia desligar-me facilmente. O teletrabalho é bom, mas, quando passamos a maior parte do tempo fechados em casa, falta-nos alguma acção que nos permita trocar o chip. Tenho usado agora o blog como escape, mas ainda estou a tentar organizar-me e encontrar o equilíbrio.

Há não muito tempo, quando precisava de desligar, ia a pé do trabalho até ao Rossio. Pelo caminho via pessoas a sair do trabalho, como eu; via turistas a passear; via pessoas a caminho do ginásio (antes da pandemia me trocar as voltas, pensava voltar a ser outra vez uma dessas pessoas que saía do trabalho e ia para o ginásio - fazia-me bem); via pessoas nas esplanadas; via alguém na sua secretária no primeiro andar de uma ourivesaria e pensava no que aquela pessoa estaria a pensar naquele momento; via pessoas a ver as montras da Avenida da Liberdade (eu também, se bem que, no meu caso, eu não visse as montras - eu olhava-as sorrateiramente para não me enamorar - ainda me lembro de ter andado a namorar um cardigan azul escuro da Pinko...); via pombos; via árvores... Às vezes andava rápido demais, porque, quando vou sozinha, tenho a mania de andar rápido, mesmo quando tento andar devagar. Mesmo assim, eu passava pela cidade e guardava as suas pequenas vidas na minha algibeira. Guardava tudo e sentia-me plena enquanto caminhava e o ar frio me batia nas faces.

Do que mais gosto são os dias em que o ar frio nos bate na cara. Por isso, adoro os começos e fins de dia. A realidade está toda concentrada naquela sensação do ar frio a bater-nos no rosto. Quando hoje acordei e me levantei, abri os estores e esta sensação de que tanto gosto estava lá. Sentia o corpo cansado de ter dormido pouco, contudo arranjei forças para agarrar o dia assim que olhei para a rua a partir da minha janela. Abri a janela da sala para o ar entrar, peguei na minha caneca de café e liguei o meu computador para organizar algumas coisas antes de ir trabalhar. Sempre que ligo o meu computador sou transportada para Manchester, pois o meu ecrã de bloqueio é uma fotografia de Salford Quays. Mais uma vez, senti o ar frio bater-me na cara. Em Manchester, senti-o como nunca antes o tinha sentido, em conjunto com pequenos flocos de neve.

Aconcheguei-me nos meus pensamentos e, pouco a pouco, fui-me preparando para mais um dia.

 

Salford Quays, Manchester

Salford Quays, Manchester

Foto: Ana Sofia Alves