História de um blog antigo
Ontem à noite não estava a conseguir adormecer. O calor não ajudava, mas o pior de tudo foi o espectáculo cinematográfico que estava a acontecer na minha cabeça. Tudo começou quando comecei a pensar em estruturas sintáctias e isso me levou ao tema da tese que nunca desenvolvi. Como um novelo que se desenrola, passaram-se imagens dos meus tempos na faculdade. Enquanto algumas recordações me deixaram saudosa, outras fizeram-me reviver algumas preocupações e arrependimentos.
O novelo continuou a desenrolar-se e a juntar pontas soltas de um novelo com outro. Quando dei por mim estava a lembrar-me de uma situação caricata.
No primeiro ano da licenciatura ainda tinha um blog. Devo ter tido mais do que um, aliás. Para dizer a verdade, não me lembro muito daquele blog. Partilhava alguns textos, mas também o meu dia-a-dia, com alguns desabafos pelo meio e momentos de felicidade. Um dia, para me animar, o meu namorado foi preparar o lanche e arranjou umas sandes em forma de coração. Achei tanta piada ao seu gesto que tirei uma foto e coloquei-a naquele meu espaço de recordações. Esse blog, ao contrário de outros, nunca foi muito lido, pelo menos que eu soubesse. Quando um colega meu de Alemão com quem não me lembro de falar me interpelou a mim e ao meu namorado no meio do corredor da faculdade, não me passava pela cabeça que seria para nos dizer que tinha visto o meu blog e que o meu namorado era um querido comigo. Continuo a pensar que esse meu antigo colega pesquisou o meu nome no Google e que foi por isso que descobriu aquele espaço (é o que dá não ter um blog anónimo), o que é um pouco estranho de imaginar, sobretudo porque não me vejo como uma pessoa que desperte a curiosidade, muito menos naquela altura. Se calhar estou enganada e as pessoas lembram-me mais de mim do que aquilo que penso. Se calhar, mesmo quando não uso roupas e batons de tons fortes, não passo assim tão despercebida.