Moinhos de vento
Primeiro foram os moinhos de vento, aqueles moinhos coloridos que as crianças transportam nas mãos carregadas de esperanças, aqueles moinhos que os avós compraram em feiras para oferecer aos petizes.
Os moinhos giraram todos ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, cada moinho soltou-se da sua pega e girou bem alto no céu.
Depois foram os rios, como seres vivos que fogem para preservar a sua liberdade, os rios correram em direcção às nascentes no alto das montanhas. Os peixes seguiram os seus rumos.
Por último, foram as aves. Migraram para as mais altas montanhas e apenas as gerações mais velhas se aperceberam das novas cores do céu.
Nos cumes mais altos, as aves e os moinhos esvoaçavam coloridos no ar. Nas águas dos rios, havia peixes dourados.
Ontem éramos crianças de mãos dadas a correr nos recreios das escolas.
Hoje somos já velhos e enrugados como as capas dos livros das mais antigas bibliotecas.
Passaram por nós os moinhos, os rios e as aves.
As cores encheram-nos de alegria e, algures nas nossas montanhas, escondemos os nossos tesouros de uma vida.
Ana Sofia Alves
1 de Agosto de 2022