No princípio, os pés eram botões de rosa dourados
No princípio, os pés eram botões de rosa dourados
caminhando pela alba dos dias. Em linhas rectas ou
em círculos conjugavam verbos e lançavam o nome
do amor ao alto para que explodisse e se fixasse
ao céu. Assim, o céu seria sempre um céu de amor.
Os pés dançavam nas falésias e as pedras rolavam
até ao mar, principiando a queda dos corpos nus.
Depois, não havia pés para manter o corpo, não havia
rosas douradas e o céu reflectia nas cores do amor
o mar revolto e cinzento. As mãos uniram-se.
As mãos viraram o corpo do avesso e tornaram sua
a tarde, a noite e a nova alvorada. Construíram com
argila novas falésias e colaram com pingos de chuva
o que sobrou do naufrágio. Depois, os pés dançavam,
as mãos construíam e os corpos uniam-se à praia.
Ana Sofia Alves
2 de Janeiro de 2021