Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Numa outra vida

Sofia
15
Jul20

Há dias em que não se passa nada e esses dias são bons. São dias que trazem harmonia à nossa vida porque são tranquilos e permitem-nos equilibrar todas as emoções. Hoje tive um desses dias.

Sinto falta de tantas coisas que tinha antes da pandemia se ter instalado. Sinto falta de estar mais com a minha família; de combinar um jantar ou saída em grupo; dos passeios pelo parque à hora de almoço; das leituras no parque à hora de almoço enquanto os turistas se maravilhavam com a nossa capital, tirando fotos ou fazendo vídeos; das idas ao supermercado ao fim-de-semana para comprar alguns frescos, miminhos (naqueles dias em que nos apetece mesmo comer maracujás ou morangos ou croissants ou um gelado - ainda bem que não quero filhos... se já sou assim sem estar grávida) ou ingredientes específicos para uma nova receita que queria experimentar; dos passeios ao final do dia e ao fim-de-semana para caminhar e apanhar Pokémons; de ir ao cinema e jantar fora com o meu namorado para sairmos da rotina; de ter a minha sala apenas como sala e não como sala-escritório; de sair à rua e saber que não se passa nada, em vez de sair à rua e sentir que estamos todos ligados mais do que nunca neste pedaço de história colectiva.

Uma das melhores coisas do meu emprego era a sua localização que agora aproveito parcamente. É verdade que perder imenso tempo em transportes de casa para o trabalho e do trabalho para casa é desgastante, mas nunca tudo é mau e há que saber dar valor ao resto. Dei valor à localização do meu actual emprego ainda antes de lá estar, antes sequer de imaginar lá estar. Acho que o Universo conspirou a meu favor e, por essa razão, quando os dias são menos bons, tento pensar que há todo um propósito que desconheço e que me trouxe até onde estou. Posso seguir por outro caminho, mas talvez o melhor seja ver o que está para vir.

Foi há menos de um ano que mudei de emprego. Cerca de uma semana antes, o meu namorado ia participar numa corrida que iniciava no Jardim Amália Rodrigues / Parque Eduardo VII. Fui com ele até lá para juntos matarmos saudades de Lisboa. Durante a corrida, acabei por ficar no jardim a ler um livro que tinha acabado de comprar. Lembro-me de estar sentada no banco de jardim a pensar em como gostaria de trabalhar ali ao lado para poder desfrutar daquele parque e viver a minha cidade. Comentei isso com o meu namorado, mas rapidamente o assunto foi esquecido, pois não estava a pensar mudar de emprego de forma abrupta. Gostava muito do que fazia e gosto imenso da minha empresa, por isso, ainda que andasse com algumas angústias silenciosas por querer experimentar algo novo, não queria arriscar deixar algo que me fazia bem. Era Sábado, dia 7 de Setembro. Passados dez dias estava a começar uma nova fase da minha vida de forma inesperada. Numa semana foi-me feita uma proposta para mudar de projecto dentro da minha empresa. Senti um turbilhão de emoções e não pude deixar de pensar que algo tomava conta de mim. Naquela altura, senti que o Universo me estava a dar algo e que não podia recusar. De repente, tive uma oportunidade de mudar de emprego sem sair da minha empresa e a possibilidade de trabalhar na zona onde tinha imaginado que gostaria de trabalhar. Ainda hoje não sei bem o que me aconteceu. Nem sequer um ano passou, mas parece que foi uma eternidade.

 

(Obrigada à equipa do Sapo Blogs pelo destaque  )