Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Pinheiros

Sofia
01
Out21

Os pés descalços e escuros da terra
corriam em direcção ao baloiço.
Por baixo dos pés, havia terra, raízes
e caruma dos pinheiros que picava
os pés enquanto corriam ou andavam.
Na terra escura havia a liberdade
de se ser quem se quiser e os sonhos
que as crianças guardam em cofres.
Os tesouros da infância estão guardados!


Parte de mim ficou colada à resina
que escorria pela casca dos pinheiros
e que as minhas mãos de criança tocavam
na procura de novas sensações. Ficamos
colados às cascas da nossa vida.
Os chorões agarravam-se à terra
com mais firmeza que as minhas mãos
que apenas queriam ser livres para construir
castelos com uma terra difícil de moldar.
Queriam ser livres para agarrarem as pinhas
e as canas, para abraçarem as árvores, para
agarrarem um pedaço de pão enquanto o corpo
corria pelo terreno, livres para agarrarem
as cordas grossas do baloiço
enquanto o corpo se imaginava a voar.
Livres e sujeitas, por isso, a qualquer infortúnio,
como as urtigas. Livres e nuas,
prontas para agarrarem com força as cordas
e prontas para ampararem qualquer queda.


No alto, à noite, as corujas tornavam-se as guardiãs
dos sonhos e dos pesadelos.
Na noite funda, ouvia-se um piar sem fim.
Os pinheiros guardavam as guardiãs.

O corpo descansa enquanto a mente anseia.
A mente anseia crescer como um pinheiro.


Ana Sofia Alves
1 de Outubro de 2021

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.