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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

O velho e o novo e o Tejo a passar ao lado

Sofia
22
Mai22

Bem sei que deixei de cá vir. Primeiro, faltava-me tempo. Depois, ganhei tempo, mas esse tempo tem sido usado para cuidar de mim.

Mudei de trabalho há 2 meses e, apesar de ter voltado ao trabalho presencial, ganhei muito mais tempo para mim. De facto, foi um dos motivos que me levou a arriscar e a aceitar uma nova aventura. Não é fácil tomar certas decisões, mas essas são aquelas decisões que vão definir a nossa vida. São decisões que calcam fundo no caminho que percorremos e que se transformam em marcos na passagem dos anos. Tem sido fantástico voltar a trabalhar presencialmente e nunca pensei desafiar-me ao ponto de estar num trabalho em que também lidasse com clientes presencialmente. Claro que tenho medo de ter arriscado e de, no fim, não ser este o meu lugar, mas é preciso avançarmos e não deixarmos que o medo nos paralise. Neste momento, sinto-me bem onde estou e é aqui que quero estar. A nível pessoal, a mudança de emprego fez-me voltar a ter mais tempo. Por muito que gostasse da minha antiga empresa, colegas e chefias, as horas de trabalho e o ritmo alucinante não me estavam a fazer bem. Agora, não tenho sentido tantas dores de cabeça como antigamente e, à noite, durmo muito melhor. Podia ter optado por tomar os ansiolíticos que o médico me passou, mas continuo uma teimosa e achei que seria melhor procurar um caminho diferente e que resolvesse as questões a fundo. A oportunidade apareceu-me numa altura em que eu precisava de mudar e, quando algo nos aparece sem procurarmos, deve ser um sinal de que afinal há algo mais para nós.

Talvez agora possa voltar a escrever mais no blog e fora dele. Estou a agarrar as rédeas da minha vida e a reencontrar-me e não podia estar mais feliz. Ontem celebrei 12 anos de namoro. No meio das mudanças, mantêm-se as melhores coisas. Passeámos pela nossa Lisboa como antigamente e fomos jantar aonde já tínhamos jantado noutros tempos. O tempo passa e há espaços que se mantêm nas nossas cabeças e nas cidades. Visitar Lisboa é agora mais agradável. A nossa vida profissional já não passa por Lisboa. No meu novo percurso do trabalho para casa passo pelos sítios da minha infância: a minha antiga praceta, as escolas onde estudei, o pequeno shopping local que me parecia enorme quando eu era uma criança, o meu antigo ginásio aonde penso agora regressar... Todo este novo percurso faz sentido. O velho e o novo juntos trazem-me o equilíbrio que eu tanto procurava recuperar.

Sejam felizes :)

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Lisboa, 21 de Maio de 2022

Pensamento do Dia #10

Sofia
31
Jul21

Não sei se me quero casar num vestido comprido até aos pés ou até num típico vestido de noiva branco. Não acho piada à ideia da noiva se andar a preocupar com a escolha de um par de sapatos para depois andarem escondidos por baixo do vestido... Por outro lado, chateia-me um pouco pensar em comprar um vestido para só o usar no meu casamento. É verdade que já me aconteceu comprar um vestido que só usei uma vez e que isso nem me chateou. Há amores assim, à primeira vista. Chateou-me mais quando no auge da minha adolescência decidi comprar um vestido de veludo preto e roxo de estilo medieval e fiquei muito infeliz quando percebi que a minha escolha arrojada não seria apropriada para o dia-a-dia. Por muita coragem que tivesse para ir para a escola de botas de biqueira de aço e pulseiras com picos e correntes, não tinha coragem para usar o vestido... Usei-o duas vezes. Era Carnaval. Segundo a minha mãe, cheguei a casa chateada e disse que ninguém me percebida porque julgavam que aquilo era uma máscara. Os dramas dos adolescentes! Agora subi de nível, já estou no nível dos dramas das noivas. Já ouvi dizer que a escolha do vestido também funciona como uma espécie de amor à primeira vista, mas há uma parte de mim que não está a aceitar bem a ideia de vir a ter o meu vestido de casamento guardado com muita estima no meu guarda-vestidos. Conhecendo-me como me conheço, se gostar assim tanto do vestido, vou querer usá-lo até à exaustão, até que vire um lindo farrapo para o qual vou olhar e pensar "Fizeste-me muito feliz! Tenho tantas memórias! Foram tantos dias especiais em que estiveste presente! Vais ser sempre recordado como O vestido! Um de muitos, é certo, mas fazes parte dos eleitos que escolhi para me acompanharem em grandes momentos."

Um poema para cada mês - Junho 2021

Sofia
24
Jan21

Espero que estejam a ter um bom Domingo e que se encontrem bem. Para quem ainda não votou, não se esqueçam e não tenham medo. (Até ao lavar dos cestos é vindima.) Pelo que tenho visto e comentado com quem conheço, as filas não estão impossíveis de aguentar e as coisas até estão organizadas. Confesso que ando com medo do bicho... Como o meu namorado hoje trabalhava, aproveitámos e fomos votar assim que as urnas abriram. Espero que o meu voto sirva para afastar certos bichos. Também ando com medo do vírus (já me bastou uma vez e tem sido terrível ver o aumento de casos), mas há outros vírus por aí que também são perigosos e com os quais também temos de ter cuidado.

Pensei não continuar com esta ideia de partilhar um poema para cada um dos meses deste novo ano (é que por este andar o ano já nem é novo), mas é importante também sabermos levar as coisas até ao fim. Não tenho aqui passado tanto como gostaria. Não posso prometer ser muito assídua aqui no blog e não sei se o mesmo não ficará ainda mais parado. A mudança de emprego tem corrido bem, mas agora o meu computador é também a minha ferramenta de trabalho e não tenho muita vontade de lhe pegar quando não estou a trabalhar. Espero que percebam. Há uns tempos ao deslocar-me de Uber para o trabalho, o motorista que me transportava comentou, ao falarmos sobre a questão do confinamento e teletrabalho, que quando não estava a trabalhar não lhe apetecia pegar no telemóvel e andar de carro, nem que fosse como pendura. Explicou-me logo que não era por não gostar do que fazia, mas porque era importante desligar. Percebi-o, claro. Agora faço praticamente o mesmo.

Não escolhi o poema de hoje por o associar ao mês de Junho ou à época do ano. Escolhi-o porque é urgente. É urgente, num momento como este, partilhar amor, partilhar alegrias, permanecer. Num dia como o de hoje, de eleições, é urgente lembrarmo-nos disto. Este é um dos meus poetas de coração.  Acho que li este poema pela primeira vez quanto tinha uns 9 anos. A minha mãe comprava-nos os livros da escola e, ainda antes das aulas começarem, eu começava logo a espreitá-los... Virava as páginas, lia algumas coisas e ficava cheia de vontade de começar as aulas para aprender todas aquelas coisas novas. Acho que este poema estava no meu livro de Português do 4.º ano. Como todos os seus poemas, este também ganhou outra profundidade com a idade. É tão bom envelhecer acompanhada de poesia tão bela como a do Eugénio de Andrade!

 

Urgentemente

 

É urgente o Amor,

É urgente um barco no mar.

 

É urgente destruir certas palavras

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.

 

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

 

Cai o silêncio nos ombros,

e a luz impura até doer.

É urgente o amor,

É urgente permanecer.

 

Eugénio de Andrade

Um poema para cada mês - Maio 2021

Sofia
17
Jan21

O mês de Maio é, para mim, um mês especial, pois foi o mês em que comecei a namorar com o meu companheiro. Assim, não me alongando muito, escolhi um poema que já tinha pensado partilhar anteriormente e que acho fantástico pelas palavras e pela sua forma.

Este poeta foi uma bela descoberta numa aula de inglês da licenciatura  (Uma aula com o melhor professor de inglês que alguma vez tive... O conhecimento linguístico e as escolhas literárias utilizadas para o ensino faziam daquelas aulas algo bastante interessante e um pouco fora do comum...)

 

i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear;and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
                                                      i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it’s you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
 
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
 
i carry your heart(i carry it in my heart)
 
 
E. E. Cummings

No princípio, os pés eram botões de rosa dourados

Sofia
02
Jan21

No princípio, os pés eram botões de rosa dourados

caminhando pela alba dos dias. Em linhas rectas ou

em círculos conjugavam verbos e lançavam o nome

do amor ao alto para que explodisse e se fixasse

ao céu. Assim, o céu seria sempre um céu de amor.

 

Os pés dançavam nas falésias e as pedras rolavam

até ao mar, principiando a queda dos corpos nus.

Depois, não havia pés para manter o corpo, não havia

rosas douradas e o céu reflectia nas cores do amor

o mar revolto e cinzento. As mãos uniram-se.

 

As mãos viraram o corpo do avesso e tornaram sua

a tarde, a noite e a nova alvorada. Construíram com

argila novas falésias e colaram com pingos de chuva

o que sobrou do naufrágio. Depois, os pés dançavam,

as mãos construíam e os corpos uniam-se à praia.

 

Ana Sofia Alves

2 de Janeiro de 2021