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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Brincar ao desassossego

Sofia
03
Jan21

Tenho de desabafar sobre este assunto... Não é bom cantar músicas quando estamos com demasiada energia e alegria dentro de nós... Além de perdermos a noção do volume, há uma grande probabilidade de se trocarem as letras... Por exemplo, ao cantar a "Bellevue" dos GNR, pode sair algo como "era só para brincar ao desassossego" em vez de "era só para brincar ao cinema negro". E vá-se lá perceber a escolha musical que, efectivamente, não combina com o estado da coisa...

( Bernardo Soares likes this post.)

 

P.S.: Peço desculpa se o título vos desiludiu e esperavam algo mais profundo. 

 

A minha vida é como se me batessem com ela.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

Haverá sempre manhãs

Sofia
11
Out20

Haverá manhãs melhores que as manhãs de Domingo? Não sei, mas para mim as manhãs de Domingo sempre tiveram um sabor especial. Talvez por poder dormir mais por não existirem compromissos e, por conseguinte, acordar despreocupada... Talvez por saber que ainda há todo um dia pela frente para descansar e / ou organizar-me... Sempre gostei dos Domingos. Mas eu gosto de muitas coisas. Até das segunda-feiras consigo gostar. Talvez por serem um recomeço e eu sentir que a minha vida e a de todos é um eterno recomeço, que o mundo é feito de recomeços, que tudo vai e vem, porque é assim que as coisas são.
Ao longo do tempo, essa coisa que é, por vezes, difícil de definir e perceber, aprendi a ver o lado bom das coisas menos boas ou a ver outras coisas. Não me considero propriamente optimista. Como é que o poderia ser? Acordo de manhã e sei que tanto pode correr tudo bem como pode ser um dia terrível, mesmo que eu faça tudo pelo melhor. Ainda que o meu dia seja aparentemente perfeito, esse dia não é só meu. No mesmo dia, outros podem estar na parte de baixo da roda. Posso deixar-me contagiar pela ideia de que o dia é fantástico ou pela ideia de que o dia é terrível. Prefiro uma espécie de neutralidade com pinceladas de coisas boas e pinceladas de coisas más. Talvez o segredo seja cultivar o nosso jardim como nos diz Voltaire1.
Observo, penso e transformo. As crenças são complicadas para mim. Tenho valores basilares na minha vida e que, certamente, influenciam a minha maneira de agir, mas não me afundo em crenças várias, fico sempre à superfície, porque aquilo que parece límpido pode revelar-se um autêntico engodo, porque tudo é grande e mais complexo do que parece e o que nos parece estar certo pode afinal estar errado. Mais, há situações em que é difícil perceber o que é certo e o que é errado. Acredito em meia dúzia de coisas amorfas que me parecem universais. Gosto de pensar que existem coisas que são comuns a tudo. Gosto das palavras de Whitman ("For every atom belonging to me as good belongs to you")e talvez uma das minhas poucas crenças seja a de que fazemos todos parte de algo.
A manhã de Domingo chega ao fim, mas sei que haverá mais manhãs e mais Domingos, porque o Sol nasce e põe-se marcando o nosso passo.

 

1 - Voltaire. Cândido, ou O Optimismo

2 - Whitman, Walt. "Song of Myself". Leaves of Grass