Da minha estante para o mundo #5
"Se os grandes princípios não tiverem fundamento, se a lei apenas expressar uma disposição provisória, será feita exclusivamente para ser contornada ou imposta."
Albert Camus, O Homem Revoltado
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"Se os grandes princípios não tiverem fundamento, se a lei apenas expressar uma disposição provisória, será feita exclusivamente para ser contornada ou imposta."
Albert Camus, O Homem Revoltado
Um dos meios de sedução mais eficazes do Mal é o convite à luta.
Franz Kafka, Aforismos
Cabe-nos a nós deixarmo-nos ou não ser seduzidos...
Se houvesse um homem que se atrevesse a traduzir o que lhe vai no coração, escrever a sua verdadeira experiência, o que é verdadeiramente a sua verdade, acredito que o mundo se desfaria, se partiria em mil pedaços e não haveria deus, acidente, ou vontade que conseguissem voltar a juntar os pedaços, os átomos, os elementos indestrutíveis com que se formou o mundo.
Henry Miller in Trópico de Câncer
Na minha sala há duas estantes com livros e uma outra estante que, servindo para várias coisas, abriga também alguns livros. Isto não é nada comparado com a casa da minha mãe cuja sala me fazia lembrar uma pequena biblioteca quando eu era ainda uma criança. Gostava de ter mais livros, mas este pequeno prazer implica gastar dinheiro e ter espaço. Como nunca li todos os livros da minha "biblioteca" de infância, quando vou a casa da minha mãe, aproveito para trazer alguns livros emprestados. (Ficaram tantos por ler!) Volta e meia cedo às tentações e compro mais um livro para a minha estante. Embora goste muito de ler no papel, não sou puritana, por isso tenho pensado em investir num leitor de livros. A minha casa agradece a ideia.
Nas minhas estantes, há livros que me chamam frequentemente - os livros de poesia. Às vezes sinto uma enorme necessidade de pegar num desses livros e ler algumas palavras. Naquelas páginas, naquelas palavras, o mundo faz sentido, mesmo que o céu esteja a cair.
Hoje partilho um pedaço de um pedaço da minha estante, um poema sobre a escrita.
A CriaçãoAcontece deste modo: uma certa languidez;No ouvido não se calam as pancadas dos relógios;Ao longe diminui o estrondo do trovão.E vislumbram-se queixas e gemidosDe aprisionadas vozes que não se reconhecem.Um certo círculo secreto estreita-se,Mas nesse abismo de badaladas e murmúriosLevanta-se um som que tudo venceu.É tal o silêncio irreparável em seu redorQue se escuta como no bosque cresce a erva,Como anda pela terra o mal com um alforge...Mas as palavras começaram já a ouvir-seE das rimas leves os tinidos da sinalização, –É quando eu começo a compreender,E de modo simples as linhas ditadasDeitam-se no caderno branco de neve.Anna Akhmatova