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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Há em nós uma grande vontade de imaginar

Sofia
07
Ago22

Há em nós uma grande vontade de imaginar.
Somos todos viajantes com histórias por contar.
Trazemos nos bolsos um pó fino chamado tempo,
Guardamos nos ossos palavras impressas pelo coração.
Trazemos nos bolsos instantes e momentos,
Guardamos nos ossos essa nossa fundação.

Não me esqueço de como o corpo se deteriora,
À medida que o pó se vai soltando das nossas mãos.
Aconchegamo-nos nos nossos bolsos, durante a nossa solidão.

Queríamos que fosse cimento, colado e firme, este momento.
Queríamos que fosse pedra, uma rocha ou monumento.
Queríamos que fosse um fosso e que tudo estivesse lá dentro.

É pó e é leve. É poeira que se solta e que se abraça ao firmamento.
São histórias que rasgam o céu em dois e nos fazem suspirar.
Trazemo-las nas algibeiras, algumas nas nossas meias,
não as queremos deixar.

Ana Sofia Alves
7 de Agosto de 2022

Moinhos de vento

Sofia
01
Ago22

Primeiro foram os moinhos de vento, aqueles moinhos coloridos que as crianças transportam nas mãos carregadas de esperanças, aqueles moinhos que os avós compraram em feiras para oferecer aos petizes.

Os moinhos giraram todos ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, cada moinho soltou-se da sua pega e girou bem alto no céu.


Depois foram os rios, como seres vivos que fogem para preservar a sua liberdade, os rios correram em direcção às nascentes no alto das montanhas. Os peixes seguiram os seus rumos.

 

Por último, foram as aves. Migraram para as mais altas montanhas e apenas as gerações mais velhas se aperceberam das novas cores do céu.

 

Nos cumes mais altos, as aves e os moinhos esvoaçavam coloridos no ar. Nas águas dos rios, havia peixes dourados.

 

Ontem éramos crianças de mãos dadas a correr nos recreios das escolas.

Hoje somos já velhos e enrugados como as capas dos livros das mais antigas bibliotecas.
Passaram por nós os moinhos, os rios e as aves.
As cores encheram-nos de alegria e, algures nas nossas montanhas, escondemos os nossos tesouros de uma vida.

Ana Sofia Alves
1 de Agosto de 2022

Esta é a história / em que os ossos estalam

Sofia
08
Fev22

Esta é a história
em que os ossos estalam
e se estilhaçam no ar
como aves no céu
rumo à liberdade.

Haverá apenas esta história
como recordação
dos anos e meses e dias.
Haverá apenas esta história
por baixo do colchão,
uma única história
que me levará para o caixão.

Só há sonhos onde há músculos
e as flores só desabrocham se chover.

Há uma única história
que se perpetua no tempo
e faz esquecer o que passou.

Ana Sofia Alves
8 de Fevereiro de 2022

Pinheiros

Sofia
01
Out21

Os pés descalços e escuros da terra
corriam em direcção ao baloiço.
Por baixo dos pés, havia terra, raízes
e caruma dos pinheiros que picava
os pés enquanto corriam ou andavam.
Na terra escura havia a liberdade
de se ser quem se quiser e os sonhos
que as crianças guardam em cofres.
Os tesouros da infância estão guardados!


Parte de mim ficou colada à resina
que escorria pela casca dos pinheiros
e que as minhas mãos de criança tocavam
na procura de novas sensações. Ficamos
colados às cascas da nossa vida.
Os chorões agarravam-se à terra
com mais firmeza que as minhas mãos
que apenas queriam ser livres para construir
castelos com uma terra difícil de moldar.
Queriam ser livres para agarrarem as pinhas
e as canas, para abraçarem as árvores, para
agarrarem um pedaço de pão enquanto o corpo
corria pelo terreno, livres para agarrarem
as cordas grossas do baloiço
enquanto o corpo se imaginava a voar.
Livres e sujeitas, por isso, a qualquer infortúnio,
como as urtigas. Livres e nuas,
prontas para agarrarem com força as cordas
e prontas para ampararem qualquer queda.


No alto, à noite, as corujas tornavam-se as guardiãs
dos sonhos e dos pesadelos.
Na noite funda, ouvia-se um piar sem fim.
Os pinheiros guardavam as guardiãs.

O corpo descansa enquanto a mente anseia.
A mente anseia crescer como um pinheiro.


Ana Sofia Alves
1 de Outubro de 2021

Não poderás viver se não te permitires / cair do céu estrelado como um meteoro

Sofia
12
Set21

Não poderás viver se não te permitires
cair do céu estrelado como um meteoro
em direcção à Terra. Os anos avançam
velozes e na crosta querem-se crateras.

A vida quer anéis de gelo, rochas e pó.
Quer explosões, luz, escuridão e
núcleos incandescentes. Quer ressoar,
quer ressonâncias, um vibrar constante
no tempo incontável e no espaço infinito.

Ana Sofia Alves
12 de Setembro de 2021