Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Há vazios onde as ondas do mar acabam

Sofia
05
Fev22

Há vazios onde as ondas do mar acabam
e onde os nossos desejos começam.
No horizonte, uma luz vai desaparecendo
e o vazio espalha-se pela noite fora.
As ondas do mar acabam nos nossos pés
que se afundam em lençóis brancos.
Há desejos que começam nos nossos pés despidos
que com as suas solas acariciam as noites escuras.
Há marinheiros que caminham pelo firmamento
e guardam em si os sonhos de uma vida.
Há outros corpos que se afundam nas ondas
e procuram as histórias futuras.
Corpos vivos, ondas soltas e, no cimo,
os despojos de um velho amor
que permanecem à deriva no mar.
Uma nova história começa, acaba a onda,
o desejo eleva-nos os calcanhares,
solta-se um grito de espuma que não se quer calar.

Ana Sofia Alves
4 de Fevereiro de 2022

Um poema para cada mês - Agosto 2021

Sofia
28
Jan21

Pensava que iria publicar isto ontem, mas o computador trocou-me as voltas e dei comigo irritada a tentar fazer o Teams funcionar... Vá-se lá saber porquê começo a abrir e fechar e, mesmo depois de o instalar, deixou de abrir... Aquele eterno loading... O problema ficou meio resolvido, porque consigo utilizá-lo online para trabalhar, mas continuo chateada com o Teams, o meu computador ou qualquer outra coisa que seja culpada.  Vou ficar cheia de rugas por coisas parvas!

Já mais calma, venho partilhar aquilo que prometi: um poema sobre o mar.   Não sei como será o próximo Verão. Espero que, apesar de tudo, possa ser melhor que o anterior. Se não pudermos desfrutar da praia, então que nos seja possível deliciarmo-nos com paisagens escritas.

Tenho um carinho enorme por esta antologia de poemas (Mar). Foi o primeiro livro de poesia que comprei. A verdade é que não sabia bem o que estava a comprar, mas senti uma vontade enorme de ter este livro e achei que, mesmo que nem tudo fizesse logo sentido, mais tarde as coisas iriam mudar e eu ia pegar naquele livro e lê-lo de outro modo e ficar muito feliz por o ter comprado. Comprei-o numa espécie de mini feira do livro na biblioteca da escola. Penso que estava no 5.º ano, no máximo no 6.º. Olhei para a capa (de que gosto muito - um verde marinho com ondas ao fundo) e vi que era um livro da Sophia de Mello Breyner. Só conhecia os contos que tinha lido na escola primária. Como gostei muito de tudo o que li da Sophia e quando era mais nova gostava muito de ler poemas no livro Novíssimas Flores Para Crianças, achei que seria uma boa escolha. E foi. Foi o primeiro livro de poesia que comprei.

 

Mar

 

De todos os cantos do mundo

Amo com um amor mais forte e mais profundo

Aquela praia extasiada e nua,

Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

No princípio, os pés eram botões de rosa dourados

Sofia
02
Jan21

No princípio, os pés eram botões de rosa dourados

caminhando pela alba dos dias. Em linhas rectas ou

em círculos conjugavam verbos e lançavam o nome

do amor ao alto para que explodisse e se fixasse

ao céu. Assim, o céu seria sempre um céu de amor.

 

Os pés dançavam nas falésias e as pedras rolavam

até ao mar, principiando a queda dos corpos nus.

Depois, não havia pés para manter o corpo, não havia

rosas douradas e o céu reflectia nas cores do amor

o mar revolto e cinzento. As mãos uniram-se.

 

As mãos viraram o corpo do avesso e tornaram sua

a tarde, a noite e a nova alvorada. Construíram com

argila novas falésias e colaram com pingos de chuva

o que sobrou do naufrágio. Depois, os pés dançavam,

as mãos construíam e os corpos uniam-se à praia.

 

Ana Sofia Alves

2 de Janeiro de 2021

O nascimento de uma pérola

Sofia
28
Jul20

Vivemos em conchas que querem permanecer na história. 

Sulcados pelo tempo, talvez até deformados, resistimos. 

Mesmo com as velas rasgadas, oferecemos o corpo ao mar 

e a cabeça à maresia. Logo, há-de chegar o dia. 

 

A maré enche de novo a praia e limpa-nos as imperfeições. 

Tocamos nas nossas conchas lisas e sabemos que nos demos 

até ao último sulco. Engolimos o frenesim das ondas e 

implodimos. Dentro de nós nasce uma pérola de lágrimas e sal. 

 

Ana Sofia Alves