Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Quero as horas salgadas que me prometeram ao nascer

Sofia
15
Mai21

Triumph Of Achilles, Franz Von Matsch

Triumph of Achilles, Franz von Matsch

(imagem: Wikipedia)

 

Quero as horas salgadas que me prometeram ao nascer

O Verão fresco e soalheiro da vida de um Homem

Os corpos nus como anémonas no mar, despidos

de temores, cheios de cores, vibrantes e triunfantes

Quero o fundo do mar e o mar sem fundo à vista

e um corpo que não desista e não se queira afundar

Quero um baú de histórias no fundo do fim do mundo

A sorte de ter memórias e de as poder ouvir cantar

As verdadeiras glórias que só um herói pode alcançar

 

Ana Sofia Alves

15 de Maio de 2021

Cadências

Sofia
09
Out20

Noite Estrelada Sobre o Ródano

Noite Estrelada Sobre o Ródano, Vincent van Gogh

(imagem da Wikipedia)

 

Trazes no teu sorriso a música de cada dia.

Perdemo-nos nas notas que sobem no ar, 

que passam os prédios, 

que chegam às árvores, 

que pousam junto da lua. 

Deslizamos os dedos pelo ar, 

agarramos as colcheias e abraçamo-nos 

numa pausa, num segundo que se faz eterno. 

Os olhos ardem ao luar, 

a música não se quer calar, 

os corpos vestem-se de cadências. 

Escrevemos histórias sem palavras, 

as mãos vibram e o ar fica mais pesado 

enquanto nos despojamos do nosso passado. 

A música enche-nos os copos quase vazios, 

gravamos memórias sonoras e esquecemos as horas. 

 

Ana Sofia Alves

9 de Outubro de 2020 

Natureza Morta

Sofia
19
Set20

Still Life with Bottle, Carafe, Bread, and Wine - Claude Monet

 Still Life with Bottle, Carafe, Bread, and Wine, Claude Monet

(imagem: National Gallery of Art)

 

 

Natureza Morta

 

No balcão está pousado um copo vazio

por onde escorreu uma gota de vinho

que deixou um pequeno rasto rubi.

Dois palmos para a esquerda,

encontramos um caderno fechado

e, ao lado, uma caneta com a tampa roída.

O balcão não tem já vida.

O bar já fechou e a luz que o ilumina

vem de um candeeiro do exterior.

Quase não há cor e os olhos esforçam-se

para ver melhor esta natureza morta.

Este é um palco onde todos os dias

homens e mulheres levam à cena

partes de uma gigantesca peça.

É este o palco onde nos escondemos

em representações de miúdos

quando já somos graúdos.

Cansamos a vida com cafeína

e algum álcool à mistura

porque a vida nos cansa.

O palco está sem vida,

agora que anoiteceu.

Lá fora, há uma avenida,

um carro que passa,

e está escuro como breu.

 

Ana Sofia Alves

18 de Setembro de 2020

Serás uma folha castanha e quebradiça

Sofia
04
Ago20

A Primeira Bailarina - Edgar Degas

A Primeira Bailarina, Edgar Degas

(imagem retirada da Wikipedia)

 

Serás uma folha castanha e quebradiça
nos meus diários de bailarina.
Serás a folha que me fez dançar,
as cores de Degas.
Serás o ar que neste Outono
me elevou os pés e fez rodopiar.

 

O parque envelhece comigo
e as tuas mãos são os carvalhos mais antigos.

 

As minhas pernas brancas
de marfim gelado
querem as tuas cores douradas.

 

Por isso danço no teu chão de Outono,
tapete de folhas secas
que dá vida aos organismos
e músculos mais escondidos.

 

Serás a minha folha castanha,
o meu bailado na natureza.

 

Ana Sofia Alves
23 de Setembro de 2019