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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Moinhos de vento

Sofia
01
Ago22

Primeiro foram os moinhos de vento, aqueles moinhos coloridos que as crianças transportam nas mãos carregadas de esperanças, aqueles moinhos que os avós compraram em feiras para oferecer aos petizes.

Os moinhos giraram todos ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, cada moinho soltou-se da sua pega e girou bem alto no céu.


Depois foram os rios, como seres vivos que fogem para preservar a sua liberdade, os rios correram em direcção às nascentes no alto das montanhas. Os peixes seguiram os seus rumos.

 

Por último, foram as aves. Migraram para as mais altas montanhas e apenas as gerações mais velhas se aperceberam das novas cores do céu.

 

Nos cumes mais altos, as aves e os moinhos esvoaçavam coloridos no ar. Nas águas dos rios, havia peixes dourados.

 

Ontem éramos crianças de mãos dadas a correr nos recreios das escolas.

Hoje somos já velhos e enrugados como as capas dos livros das mais antigas bibliotecas.
Passaram por nós os moinhos, os rios e as aves.
As cores encheram-nos de alegria e, algures nas nossas montanhas, escondemos os nossos tesouros de uma vida.

Ana Sofia Alves
1 de Agosto de 2022

Os astros lá no alto

Sofia
09
Out21

Os astros lá no alto não querem saber das nossas dores.

Mesmo quando o mundo bate dentro do nosso peito,

não temos direito a qualquer pequena contemplação.

Mesmo que as lágrimas afundem um pequeno coração,

o Universo permanece igual. Chega-se assim à conclusão:

não há nada no coração, é só sangue e carne pulsante.

Memórias de aconchego, sorrisos ou lágrimas de tristeza

são frutos da nossa imaginação. No entanto, o ritmo,

a pulsação, parece contar uma história. Parece haver

uma memória, sorrisos e lágrimas. O sangue espalha-se

por todo o corpo, a história corre-nos pelas nossas veias.

As memórias permanecem como alicerces e sentimo-nos

um edifício belo, mas degradado. Já não há tecto que nos

proteja, apenas astros lá no alto que não querem saber.

Fazemos promessas feias ao infinito quando há esperança.

Consumimo-nos até sermos apenas fumo que segue no ar.

Consumimo-nos até que a carne se desfaça em bocados,

até que o sangue que nos dá vida decida parar de correr.

Quantas histórias! Quantas pulsações! Quanta loucura!

Chamam-lhe viver. Quantas mortes? Quantas vidas?

 

Ana Sofia Alves

9 de Outubro de 2021

Não poderás viver se não te permitires / cair do céu estrelado como um meteoro

Sofia
12
Set21

Não poderás viver se não te permitires
cair do céu estrelado como um meteoro
em direcção à Terra. Os anos avançam
velozes e na crosta querem-se crateras.

A vida quer anéis de gelo, rochas e pó.
Quer explosões, luz, escuridão e
núcleos incandescentes. Quer ressoar,
quer ressonâncias, um vibrar constante
no tempo incontável e no espaço infinito.

Ana Sofia Alves
12 de Setembro de 2021

Um poema para cada mês - Setembro 2021

Sofia
29
Jan21

Setembro é o mês do regresso às aulas e foi essa a ideia que me levou à procura de um poema. Não é um poema sobre a escola. Optei por recordar poetas que conheci enquanto estudante e que me trouxeram algo de novo e bom. Alguns já aqui tinham sido partilhados, por isso, tive de pensar noutros nomes. Lembrei-me das primeiras aulas de literatura na faculdade e a banda sonora que tenho estado a ouvir esta noite (Seu Jorge) levou-me até ao outro lado do oceano. Apesar dos estudos, tenho pena de não me ter dedicado a conhecer mais de Carlos Drummond de Andrade.

 

Quadrilha

 

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

 

Carlos Drummond de Andrade