Os astros lá no alto
Os astros lá no alto não querem saber das nossas dores.
Mesmo quando o mundo bate dentro do nosso peito,
não temos direito a qualquer pequena contemplação.
Mesmo que as lágrimas afundem um pequeno coração,
o Universo permanece igual. Chega-se assim à conclusão:
não há nada no coração, é só sangue e carne pulsante.
Memórias de aconchego, sorrisos ou lágrimas de tristeza
são frutos da nossa imaginação. No entanto, o ritmo,
a pulsação, parece contar uma história. Parece haver
uma memória, sorrisos e lágrimas. O sangue espalha-se
por todo o corpo, a história corre-nos pelas nossas veias.
As memórias permanecem como alicerces e sentimo-nos
um edifício belo, mas degradado. Já não há tecto que nos
proteja, apenas astros lá no alto que não querem saber.
Fazemos promessas feias ao infinito quando há esperança.
Consumimo-nos até sermos apenas fumo que segue no ar.
Consumimo-nos até que a carne se desfaça em bocados,
até que o sangue que nos dá vida decida parar de correr.
Quantas histórias! Quantas pulsações! Quanta loucura!
Chamam-lhe viver. Quantas mortes? Quantas vidas?
Ana Sofia Alves
9 de Outubro de 2021