Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

Dançar na Corda Bamba

Sofia
01
Nov24

Não me esqueci de que tenho um blog. Simplesmente não tenho tido muita vontade e paciência para aqui escrever.

Acabo por ir lendo o que se vai escrevendo por estes lados, mas opto por ficar no meu canto, em silêncio. Às vezes é preciso isso mesmo. Ficar em silêncio e ouvir apenas os nossos pensamentos. Continuo a achar que vivemos num tempo cheio de pressa, barulho e confusão. Eu própria tento viver ao máximo e aproveitar tudo e dou comigo, algumas vezes, a precisar de parar e descansar. Chegada a casa, tento abstrair-me disso e aproveitar o meu sossego na companhia das minhas gatas e do meu companheiro de vida.

As notícias entram-nos em casa pelos ecrãs. Do televisor. Dos telemóveis. Outras vezes, entram-nos pelas palavras que se ouvem na rádio. A maioria das vezes, trazem consigo a confusão dos dias em que vivemos. Não dá para evitar tudo o que nos aflige, porque fazemos parte de um mundo cada vez mais ligado entre si. Podemos, contudo, dosear a nossa exposição ao que nos aflige. Já diziam os Clã, dançar na corda bamba.

Hoje senti vontade de aqui voltar, de deixar pelo menos umas palavras. Porque o silêncio não pode ser eterno. Porque o silêncio só é bom se nos fizer ir mais além, se for uma semente em crescimento que desabrocha com palavras amadurecidas pelo tempo.

Talvez cá volte para partilhar as coisas boas que vão aparecendo. As más nunca gostei de partilhar. Todos nós vivemos experiências más individuais e colectivas. Gosto de aproveitar este espaço para alguma instropecção intrometida, mas intrometer-me nas vossas vidas como uma folha de Outono que cai de uma árvore - com alguma beleza, um pouco sem jeito, mas leve, sem grandes tristezas ou alegrias exacerbadas. Às vezes deixo-me levar pelas emoções mais fortes, mas também é preciso.

Este ano tem sido recheado de emoções. Alguns concertos e livros que me encheram a alma. Uma viagem mal planeada que renovou o meu entusiasmo por conhecer coisas novas e praticar línguas estrangeiras. Um trabalho que se mantém mas que me tem permitido crescer. (Omiti as coisas más, como já se percebeu. Felizmente, não são muitas e, comparando com tudo o que se vai passando no mundo, não são nada.)

 

Clã - Dançar na Corda Bamba

Os astros lá no alto

Sofia
09
Out21

Os astros lá no alto não querem saber das nossas dores.

Mesmo quando o mundo bate dentro do nosso peito,

não temos direito a qualquer pequena contemplação.

Mesmo que as lágrimas afundem um pequeno coração,

o Universo permanece igual. Chega-se assim à conclusão:

não há nada no coração, é só sangue e carne pulsante.

Memórias de aconchego, sorrisos ou lágrimas de tristeza

são frutos da nossa imaginação. No entanto, o ritmo,

a pulsação, parece contar uma história. Parece haver

uma memória, sorrisos e lágrimas. O sangue espalha-se

por todo o corpo, a história corre-nos pelas nossas veias.

As memórias permanecem como alicerces e sentimo-nos

um edifício belo, mas degradado. Já não há tecto que nos

proteja, apenas astros lá no alto que não querem saber.

Fazemos promessas feias ao infinito quando há esperança.

Consumimo-nos até sermos apenas fumo que segue no ar.

Consumimo-nos até que a carne se desfaça em bocados,

até que o sangue que nos dá vida decida parar de correr.

Quantas histórias! Quantas pulsações! Quanta loucura!

Chamam-lhe viver. Quantas mortes? Quantas vidas?

 

Ana Sofia Alves

9 de Outubro de 2021

Não poderás viver se não te permitires / cair do céu estrelado como um meteoro

Sofia
12
Set21

Não poderás viver se não te permitires
cair do céu estrelado como um meteoro
em direcção à Terra. Os anos avançam
velozes e na crosta querem-se crateras.

A vida quer anéis de gelo, rochas e pó.
Quer explosões, luz, escuridão e
núcleos incandescentes. Quer ressoar,
quer ressonâncias, um vibrar constante
no tempo incontável e no espaço infinito.

Ana Sofia Alves
12 de Setembro de 2021