Um poema para cada mês - Abril 2021
Continuando aquilo a que me propus, venho hoje partilhar mais um poema. Teria gostado de continuar com as publicações de dia 1 a 12 sem interrupções, mas a verdade é que, durante os dias úteis, não tenho paciência para estar no computador depois do horário de trabalho. Não me levem a mal. Tendo dito isto, é provável que as publicações sejam sobretudo aos fins-de-semana.
Em Abril, já estamos na Primavera que, para mim, é a estação em que podemos olhar à nossa volta e maravilhar-nos mais rapidamente com a beleza da natureza. Quando nos apercebemos, as ervas estão mais verdes, as flores aparecem para dar mais cor aos nossos dias, os dias estão mais luminosos, os pássaros ouvem-se cantar...
Partindo desta ideia, lembrei-me de que esta seria a altura ideal para partilhar Pessoa. Se dúvidas houvesse, a ideia do nascimento de Alberto Caeiro em Abril confirmou-me que seria ele o escolhido. Falar do que o Fernando Pessoa é para mim... Bem, podia dizer/escrever muita coisa, mas ia sempre ficar muito por dizer/escrever. Para mim, Pessoa foi o primeiro. Foi a grande descoberta, foi a grande paixão, foi a grande incógnita, foi o grande amor, foi a grande revelação... Ainda hoje o vou descobrindo e redescobrindo. Para quem também se sente assim quando fala de Pessoa, como foi descobri-lo? Deve ser uma recordação interessante.
Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos