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a world in a grain of sand

um mundo num grão de areia

a world in a grain of sand

Um poema para cada mês - Abril 2021

Sofia
10
Jan21

Continuando aquilo a que me propus, venho hoje partilhar mais um poema. Teria gostado de continuar com as publicações de dia 1 a 12 sem interrupções, mas a verdade é que, durante os dias úteis, não tenho paciência para estar no computador depois do horário de trabalho. Não me levem a mal. Tendo dito isto, é provável que as publicações sejam sobretudo aos fins-de-semana.

Em Abril, já estamos na Primavera que, para mim, é a estação em que podemos olhar à nossa volta e maravilhar-nos mais rapidamente com a beleza da natureza. Quando nos apercebemos, as ervas estão mais verdes, as flores aparecem para dar mais cor aos nossos dias, os dias estão mais luminosos, os pássaros ouvem-se cantar...

Partindo desta ideia, lembrei-me de que esta seria a altura ideal para partilhar Pessoa. Se dúvidas houvesse, a ideia do nascimento de Alberto Caeiro em Abril confirmou-me que seria ele o escolhido. Falar do que o Fernando Pessoa é para mim... Bem, podia dizer/escrever muita coisa, mas ia sempre ficar muito por dizer/escrever. Para mim, Pessoa foi o primeiro. Foi a grande descoberta, foi a grande paixão, foi a grande incógnita, foi o grande amor, foi a grande revelação... Ainda hoje o vou descobrindo e redescobrindo. Para quem também se sente assim quando fala de Pessoa, como foi descobri-lo? Deve ser uma recordação interessante. 

 

Quando vier a primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

 

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

 

Se soubesse que amanhã morria

E a primavera era depois de amanhã,

Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.

 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.

O que for, quando for, é que será o que é.

 

Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos

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